Um sexo impensável : a identificação dos hermafroditas na França do século XIX

28 de janeiro de 2011 | Artigos | por Dionne Freitas

A figura hermafrodita é, ao mesmo tempo, portadora e reveladora eloquente das problemáticas de gênero: ela encarna literalmente a questão da identidade sexual e levanta aquela acerca da pertinência e legitimidade das categorias da sexualidade. Permite igualmente interrogar a propósito das modalidades de identificação do indivíduo em uma sociedade e, mais genericamente, as tensões no Estado moderno entre as liberdades individuais e o controle social. Estas últimas são perceptíveis desde o século XVIII, que elabora ao mesmo tempo uma reflexão sobre a identificação dos indivíduos e técnicas que a colocam em prática, como o estado civil ou o passaporte. É também a partir das últimas décadas do século das Luzes que os médicos conceitualizam e promovem a diferenciação dos sexos, perenizada pelo Estado a partir do registro do recém-nascido, que se declina exclusivamente em sexo masculino ou feminino. O código napoleônico de 1804, que certificava das regras do estado civil de um indivíduo como princípio da desigualdade dos sexos, testemunha estas evoluções e inaugura o século da sistematização do dimorfismo sexual biológico e cultural.

 

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