Thais Emilia: Símbolo na luta mundial pela dignidade de bebês intersexo e de mães de intersexo

Thais Emilia de Campos dos Santos é AH/SD, mulher intersexo e mãe de intersexo, mãe de uma criança com TEA, mãe de Jacobinho (in memoriam), Guilherme, Alexandre e Jenny Rayssa. Ela é casada com Elisberto dos Santos de Campos. Thais é fundadora e presidente da Associação Brasileira de Intersexos (ABRAI), professora universitária, doutora e mestra em Educação, ambos pela Unesp. Além disso, é psicopedagoga, educadora sexual, especialista em Educação Inclusiva e Especial, com experiência na Secretaria Estadual de Educação de São Paulo e na USP, psicanalista e autora do livro “Jacob(y): Entre os Sexos e Cardiopatias, o que o fez Anjo?“.

Ela atua como embaixadora na luta contra a violência de gênero pelo Instituto Avon, sendo vencedora do “II Prêmio Juntas Transformamos” do Instituto Avon e finalista do “II Prêmio Viva” da Revista Marie Claire. Anteriormente, Thais foi membro da Comissão de Diversidade de Sexo e Gênero da OAB, da qual é atualmente parceira, além de ter sido conselheira da Pessoa com Deficiência e do Idoso. Ela é a criadora dos grupos “Direitos Intersexo” e “Mulheres Aflitas – Maria da Penha” e seus respectivos coletivos, e também atua como coordenadora suplente na área Intersexo da Aliança Nacional LGBTI. Thais atua acolhendo bebês intersexos e suas famílias através do “Rede Jacob: Autonomia e Autodeterminação“.

Thais possui formação em Psicanálise, Sociologia e Educação Física, além de especializações em Educação Inclusiva na USP, Ciências Políticas e Deficiência Intelectual. Ela é doutora em Educação pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), defendendo sua tese, “Educação de Crianças e Adolescentes Intersexo“, em 2020. Anteriormente, em 2015, concluiu seu mestrado em Educação na mesma instituição, com a dissertação “Educação Sexual e Autonomia: Estudo de uma Intervenção com Alunos do Ensino Médio do Interior do Estado de São Paulo“. Em 2004, finalizou sua especialização em Psicopedagogia no Centro Universitário do Norte Paulista (UNORP), e em 2001, concluiu seu curso de Pedagogia na Unesp, com habilitação em Educação Especial, apresentando a monografia “Educação Musical e Matemática: o Ensino das 4 Operações Matemáticas Através da Musicalização Infantil“. Além disso, Thais realizou uma Iniciação Científica com bolsa do CNPq por dois anos, com um trabalho intitulado “Avaliação em Educação Especial: o Ponto de Vista do Professor de Educação Especial“. Antes de cursar Pedagogia, em 1996, ela concluiu o Curso Técnico/Profissionalizante em Magistério pelo Centro de Formação e Aperfeiçoamento do Magistério. Sua formação musical foi concluída em 1995, com ênfase em instrumentos de teclados. Ela é professora substituta no IBILCE-Unesp, ministrando a disciplina de Psicologia da Educação, e professora voluntária de Sociologia no Centro Cultural do Vasco.

INTERESSES E CAUSAS

Ela iniciou a articulação de diversas políticas públicas em prol de crianças intersexo no Brasil e no mundo, incluindo a desburocratização do registro civil de bebês intersexo no Brasil, articulações pelo formulário de notificação de pessoas intersexo no CPF, e representação do Brasil na Declaração de São José da Costa Rica pelos direitos humanos (2020). Além disso, participou de diversas reuniões e relatórios da OEA (Washington, EUA, 2021/2022/2023/2024) e da ONU, e organizou o Informativo sobre bebês intersexo da Secretaria de Saúde de SP, assim como a nota técnica orientativa sobre Intersexo do CRP-SP, sendo membro do Grupo de Trabalho do CFP sobre Intersexualidade.

Thais Emilia também é membro do Grupo de Trabalho do Ministério de Direitos Humanos na área Intersexo e é responsável pela coordenação de diversos projetos pelo fim da violência obstétrica e pela dignidade de bebês intersexo, subsidiados por fundos internacionais e nacionais. Ela já atuou como professora de Atendimento Educacional Especializado (AEE) em deficiência múltipla e TEA, além de ser psicopedagoga institucional, elaborando formulários e reorganizando procedimentos de atendimento da Secretaria de Educação, e participante do Grupo de Trabalho da Lei da Inclusão (2015).

Além de sua atuação acadêmica e política, Thais Emilia também é musicista e dançarina, e atuou na direção de onze organizações não governamentais (ONGs). Ela é autora de diversos artigos científicos nas áreas de Educação Inclusiva, Diversidade, TEA, Educação Sexual, e Intersexualidade, além de ter contribuído com capítulos de livros e ser autora de obras como “Jacob(y) entre os sexos e cardiopatias o que o fez anjo” e “150 variações intersexo“. Mais informações sobre os livros de Thais Emilia podem ser encontradas em www.thaisemilia.com.br e no Instagram @thaisemiliasantos.

Anteriormente, Thais Emilia foi conselheira da Pessoa com Deficiência, do Idoso e da Mulher (nos períodos de 2006-2010), acumulando mais de 20 anos de atuação em políticas educacionais inclusivas em diversas secretarias de educação e saúde, tanto estaduais como municipais. Ela também contribuiu na elaboração de políticas de saúde de prevenção ao câncer e na oficialização do Novembro Azul (2011-2012).

JACOB

Em 2016, nasceu Jacob. Aos 7 meses de gestação, uma ressonância fetal identificou uma ambiguidade sexual. Thais não se importou com o sexo, entendendo-o como um corpo não binário; apenas isso, as leituras de Butler e de Reich no mestrado a fizeram uma pessoa livre da sexualidade de caixinhas. Sua preocupação era com a microcefalia de Jacob e com o grave problema no coração. Contudo, quando Jacob nasceu, essa preocupação não foi a mesma da equipe médica. No primeiro dia de vida de Jacob, o órgão genital foi a maior preocupação das equipes médicas do hospital, que o submeteram a diversos exames e ultrassons, pretendendo definir seu sexo. Depois de muito tempo, os médicos recomendaram uma cirurgia de designação sexual, que Thais e sua família recusaram. Por conta da ausência de uma definição binária do sexo (masculino ou feminino), o hospital recusou-se a emitir a Declaração de Nascido Vido (DNV), essencial para solicitarem a Certidão de Nascimento. Durante dois meses, Thais não conseguiu ter acesso à licença-maternidade, nem Jacob ao SUS e ao Convênio de Saúde, até que ele foi registrado com o sexo masculino e teve o documento emitido.

Depois de tudo o que ocorreu, Thais descobriu que, desde 2012, é possível registrar o sexo como “ignorado”, quando a criança é intersexo. Um ano e meio depois de nascer, esse pequeno anjo, símbolo de toda a luta intersexo, deixou-os, por um problema cardíaco – o que preocupava Thais, não pelo sexo, não por ser intersexo. Depois que Jacob os deixou, ele a motivou ainda mais a continuar. Finalizar a escrita da tese sobre a Educação de crianças e de adolescentes intersexo não foi fácil. Thais acredita que, se existe um plano superior, Jacob está lá e cuidava/cuida dela.

Com o nascimento de Jacob, Thais começou uma missão: ajudar mães e crianças e adolescentes intersexo. Em 2018, começaram o processo de regulamentação da Associação Brasileira Intersexo (ABRAI). Em 2019, Thais assumiu a presidência da Associação e em 2020 regulamentaram a ABRAI, que vem atuando no atendimento de pessoas intersexo e de seus familiares, por meio de parcerias com laboratórios, ambulatórios e médicos. A ABRAI oferece serviços psicoterapêuticos e clínicos abrangentes, além de alojamento temporário para pessoas intersexo e para seus familiares.

Jacob, porém, não foi o único momento complexo na vida de Thais.

ARTIGOS PUBLICADOS

Thais é coautora de capítulos nos seguintes livros: “Intersexo“, “Mulheres, Gênero e Sexualidades na Sociedade: Diversos Olhares sobre a Cultura da Desigualdade” e “Saúde LGBTQIA+: Práticas de Cuidado Transdisciplinar”. Além disso, contribuiu para o livro “Metodologias de Ensino e a Apropriação de Conhecimento pelos Alunos”. Thais também possui diversos artigos publicados em periódicos científicos. Veja-os a seguir:

1. Relação entre conduta, conhecimento sexual e uso de preservativo entre alunos e professores do Ensino Médio, publicado em 2017, na Revista Adolescência & Saúde.

2. Consumo de álcool e outras drogas em adolescentes infratores de uma unidade de semiliberdade do interior do estado de São Paulo, publicado em 2017, na Revista Colloquium Humanarum.
   Link: https://journal.unoeste.br/index.php/ch/article/view/2212/2044

3. Atividades utilizadas para educação sexual na escola, publicado em 2015, na Revista Colloquium Humanarum.
   Link: http://www.unoeste.br/site/enepe/2015/suplementos/area/Humanarum/Educa%C3%A7%C3%A3o/ATIVIDADES%20UTILIZADAS%20PARA%20EDUCA%C3%87%C3%83O%20SEXUAL%20NA%20ESCOLA.pdf

4. Gênero e identidade na sala de aula, publicado em 2015, na Revista Colloquium Humanarum.
   Link: http://www.unoeste.br/site/enepe/2015/suplementos/area/Humanarum/Educa%C3%A7%C3%A3o/G%C3%8ANERO%20E%20IDENTIDADE%20NA%20SALA%20DE%20AULA.pdf

5. Análise das questões da caixa de dúvidas sobre sexo de uma escola de Ensino Médio, publicado em 2014, na Revista Colloquium Humanarum.  Link: http://www.unoeste.br/site/enepe/2014/suplementos/area/Humanarum/Educa%C3%A7%C3%A3o/AN%C3%81LISE%20DAS%20QUEST%C3%95ES%20DA%20CAIXA%20DE%20D%C3%9AVIDAS%20SOBRE%20SEXO%20DE%20UMA%20ESCOLA%20DE%20ENSINO%20M%C3%89DIO.pdf

6. Queixa escolar: uma nova proposta de avaliação, publicado em 2013, na Revista Colloquium Humanarum. Link: http://www.unoeste.br/site/enepe/2013/suplementos/area/Humanarum/Educa%C3%A7%C3%A3o/Queixa%20escolar%20uma%20nova%20proposta%20de%20avalia%C3%A7%C3%A3o.pdf

7. Avaliação em educação especial: o ponto de vista do professor de alunos com deficiência, publicado em 2005, na Revista Estudos em Avaliação Educacional. Link: http://www.fcc.org.br/pesquisa/publicacoes/eae/arquivos/1222/1222.pdf

Em 2022, Thais participou do documentário “Infelizmente, existe esse movimento feminista – The Monnas | Musical e Documentário”

Relato sobre Direitos das Pessoas Intersexo na Semana Internacional da Mulher da UNESP:

Documentário “Exército Intersexo” por Tomas Auksas:

Documentário “Vozes da Diversidade – INTERSEXO” pela ABRAI:

Matéria para o G1 em 2020: “Orgulho de Ser Quem se É: O Direito à Cidadania de Pessoas Intersexo”:

https://g1.globo.com/pop-arte/diversidade/noticia/2022/06/27/orgulho-de-ser-quem-se-e-o-direito-a-cidadania-de-pessoas-intersexo.ghtml

Em 2019, Thais participou de uma entrevista para o reconhecimento do Coletivo Feminista pelo combate à violência contra mulheres e meninas:

https://revistamarieclaire.globo.com/Premio-Viva/noticia/2019/09/thais-emilia-ataca-pornografia-de-vinganca-e-rapto-de-filhos-cometidos-pelos-ex.html

Conheça mais da história e dos trabalhos de Thaís Emília através do seu site, https://thaisemilia.com.br/.