[ ] Precisamos Falar Sobre Assexualidade

1 de setembro de 2021 | Ações | por Dionne Freitas

Constantemente pessoas assexuais queixam-se sobre profissionais da área da saúde que recomendam “tratamentos” para assexualidade; tratamentos que variam desde o uso de hormônios, medicamentos e outros produtos, até conselhos incentivando a prática de atividades sexuais e seguimos pensando em um modo de auxiliar as pessoas que passam por essas situações.
Faz-se urgente a necessidade de que profissionais da saúde entendam que as assexualidades são orientações sexuais e abandonem a patologização de pessoas e experiências assexuais, superando ideias de cura ou conversão.
Há mais de uma década, a comunidade assexual atua ativamente para buscar encerrar a patologização de pessoas assexuais, tendo importante vitória, em 2013, quando o DSM-5 foi publicado e exclui pessoas auto identificadas como assexuais dos critérios do Transtorno do Interesse/Excitação Sexual Feminina e o Transtorno do Desejo Sexual Masculino Hipoativo.
Ainda assim, pessoas assexuais são submetidas com frequência a investigações clínicas, procedimentos investigativos invasivos e desnecessários (física e psicologicamente), com o intuito de se encontrar uma causa para a assexualidade daquele indivíduo. Não são raros os casos de pessoas assexuais que são orientadas a fazerem o uso de hormônios e outros medicamentos e produtos, com o intuito de “cura”, ou que buscando apoio ou ajuda no processo de aceitação de sua identidade, recebem mais dúvidas e questionamentos.
Proposições de “cura” de pessoas assexuais são processos desumanizantes, desrespeitosos e criminosos, que violam a ética da atuação de profissionais da saúde e devem parar.
Inúmeras pessoas assexuais se sentem compelidas em buscar ou experimentar supostos tratamentos oferecidos por profissionais da saúde, deixando de encontrar nesses profissionais a devida garantia de sua saúde mental e física, e por vezes, até encontrar aliados contra a pressão de familiares, parcerias afetivas e expectativas sociais. Algumas chegam a se violar na tentativa de seguir tais conselhos, se colocando em situações abusivas que podem ser, estas sim, traumatizantes.
O sofrimento que isso acarreta poderia ser evitado se a assexualidade fosse encarada como via possível e natural de vivência humana.
Somando experiências com frequência incompreendidas, em uma sociedade sexonomativa, pessoas assexuais muitas vezes buscam profissionais da saúde apresentando sofrimento em razão de sentirem-se “doentes” e “errados”. Estes profissionais devem buscar se atentar às reais razões que compelem essas pessoas buscarem ajuda profissional e respeitando a individualidade e autonomia dessas pessoas, evitar a patologização das experiências de pessoas assexuais que assim se identificam e até mesmo apresentar a assexualidade como possibilidade para aquelas pessoas que deixam de se adequar em critérios de diagnóstico de transtornos.
Pessoas assexuais que deixam de encontrar profissionais da saúde que suportem e apoiem suas experiências e sua identidade, com frequência sentem-se completamente
desamparadas e incompreendidas, aprofundando sofrimentos e evitando tanto quanto o possível novos contatos com profissionais da saúde, o que pode causar um sério risco para a saúde dessas pessoas.
Destacam-se os seguintes pontos de desconforto para assexuais na busca de auxílio médico ou psicológico e as devidas áreas de atuação:
– Tratamentos com hormônios, medicamentos e vitaminas em busca de possível equilíbrio de libido sexual (psiquiatras, endocrinologistas, ginecologistas e urologistas) – Sugestão para que tenham mais relações sexuais até que se acostumem com a prática (especialmente de psicólogos)
– Conselhos para que pessoas com vagina transem mais com penetração para manter a musculatura pélvica firme, bexiga saudável, entre outras indicações
– Alguns profissionais de ginecologia e urologia não pedem ou até se recusam a pedir alguns exames se o indivíduo diz que não pratica sexo, o que faz com que muitas pessoas não consigam acompanhar sua saúde plenamente, já que muitas doenças não dependem de vida sexual ativa e são diagnosticadas com exames
– Sugestão para que tentem se relacionar sexualmente com gêneros que ainda não tentaram, para ver se o “problema” de não se interessar por sexo não é estar se relacionando com um gênero que não se atrai (geralmente psicólogos)
– Tentar direcionar e limitar todo o processo terapêutico para a busca de traumas que possam ter fechado a pessoa às experiências sexuais para explicar e “resolver” a assexualidade (psicólogos)
– Pedido de inúmeros exames, especialmente hormonais para investigar a “causa” da assexualidade
Estes são apenas alguns exemplos, e muitas vezes uma mesma pessoa assexual passa por todos os processos citados orientada por profissionais que a fazem crer que há algo de errado.
Motivados por essas questões, o Coletivo Abrace e entidades de saúde estão iniciando a campanha “Precisamos falar sobre assexualidade”, por acreditar que a informação é força, evolução e resistência, pedindo apoio de instituições, ativistas, da sociedade em geral e principalmente profissionais da saúde para que mais pessoas possam conhecer as assexualidades e que mais assexuais tenham segurança em buscar auxílio e cuidados de profissionais da saúde sem que para isso corram o risco de sofrerem com alguma tentativa de violação de seus corpos, sua identidade e autonomia, em prol da “cura” do que nunca foi problema.
Sugerimos ainda ações como:
● Desenvolvimento e distribuição de material didático em órgãos de saúde (panfletos, livretos e afins)
● Campanhas de visibilidade das assexualidades promovendo disseminação de informações para a sociedade em geral
● Capacitação para profissionais da saúde sobre o tema (Palestras, cursos e distribuição de materiais didáticos)
Informação também é um caminho para uma vida com saúde e bem-estar.
#PrecisamosFalarSobreAssexualidade
#AssexualidadeNãoÉDoença
#CuraAceNão
#FaleSobreAssexualidade
#NãoHáCuraParaOQueNãoÉDoença

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