Lançamento do livro “150 Variações Intersexo” marca avanço no conhecimento sobre diversidade corporal
21 de maio de 2024 | Publicações, Sem categoria | por ABRAI
Foto: Arquivo Pessoal
No último sábado (18), durante o Seminário “Impacto da Atuação dos Poderes no Enfrentamento à LGBTfobia”, realizado na OAB São Paulo, foi lançado o livro “150 Variações Intersexo”, escrito por Dra. Thais Emilia, Céu Albuquerque e Ms. Dionne Freitas. Este livro traz a catalogação de estados intersexo, auxiliando profissionais de diversas áreas, como saúde e educação, a obterem conhecimento sobre o tema. O livro foi aprovado por pareceristas doutores nas áreas de educação e saúde.
O evento contou com a participação de toda a diretoria da ABRAI, incluindo Dra. Thais Emilia, Ms. Dionne Freitas, Elisberto Santos, Dr. Walter Mastelaro, Dra. Rachel Rocha e Mayara Natale. Infelizmente, uma das coautoras do livro, Céu Albuquerque, não pôde estar presente, pois reside na cidade de Olinda, Pernambuco. Toda a venda do livro no dia foi revertida para a ABRAI.
O evento também contou com a presença de diversas autoridades públicas, deputados, juízes federais, promotores de justiça, médicos, professores universitários e representantes de outras organizações da sociedade civil.
Na tribuna, a coautora Dionne Freitas fez um discurso:
Gostaria de agradecer por este momento de estar aqui e poder apresentar nosso livro, que é fruto de um trabalho de revisão bibliográfica sobre os estados intersexo, suas variações e o espectro intersexo. Ele foi escrito por mim, pela Thais e por Céu. Quem quiser adquirir e conhecer um pouco mais sobre as características e variações da corporeidade intersexo, estaremos no fundo vendendo o livro.Esse livro é um marco, pois há poucos dados sobre pessoas intersexo, especialmente no Brasil. São poucas as pesquisas; até mesmo o Ministério da Saúde não tem levantamentos sobre cirurgias ou epidemiologia. Este livro mostra as grandes variações e onde essas pessoas estão, pois elas têm sido invisibilizadas. Até então, a OMS e a ONU consideravam uma porcentagem de 0,05% a 1,7% dos casos de intersexualidade, podendo chegar a 2%. Com nosso levantamento, conseguimos superar esses números, pois antes não havia essa coleta de dados. Em dados anteriores, identificamos quase 60 estados intersexo e, com nossa pesquisa, categorizamos 150, o que representaria aproximadamente 11% da população.
Publicamos o livro e entramos em contato com organizações internacionais para rever a estatística da OMS junto com a ONU. Esse livro é muito importante para nós justamente por isso.
Fala de Thais Emilia:
Esse trabalho surgiu da ideia do canal do YouTube que a Dionne tem há muitos anos, onde ela falava de todos os estados intersexo. No livro colocamos variações intersexo por orientação de parceristas. É uma pesquisa científica aprovada por pareceristas que são médicos e professores em universidades públicas. O livro é muito sério; trabalhamos muito nele.Fazemos esse levantamento e explicamos a diferença entre ser intersexo e ter uma DDS (Diferença do Desenvolvimento Sexual). Conceituamos que ser intersexo é a vivência de uma pessoa que tem um corpo que foge ao binarismo imposto. Intersexo é uma condição psicossocial de quem tem um corpo com variações, e trazemos essas 150 variações. A OMS nos pediu o livro porque provavelmente vão mudar a estatística deles. É um marco esse livro.
Também quero falar do livro que já tem alguns anos, “A História do Meu Filho”, do Jacob, que nasceu intersexo e virou símbolo mundial da luta contra a violência física e psicológica em bebês intersexo. Essa luta é contra a mutilação genital infantil, e a Carolina Iara, que está ali, protocolou o dia contra a mutilação genital infantil, aprovado em São Paulo no dia 26 de Setembro. Estamos na corrida para estabelecer essa data a nível federal, que está quase sendo aprovada. O dia 26 de setembro é o aniversário do Jacob, que se tornou o dia da conscientização intersexo.
Para mim, hoje é uma data muito emocionante. Estamos com uma criança intersexo na luta por um transplante de rim há 6 anos, e ele está sendo transplantado agora. Ser intersexo não é apenas uma luta de gênero, é uma luta por saúde, pois há questões metabólicas que precisam ser tratadas. Não patologizamos, mas enxergamos a realidade e as condições que precisam de cuidado. Estamos felizes que finalmente saiu o rim para ele. Desculpem falar demais. Obrigada.
Fala de Rachel Rocha:
Tenho que agradecer a presença de todos. Fizemos um evento muito bonito no dia 26/10/2022, que é o Dia da Visibilidade Intersexo. Recentemente, o Ministério Público do Rio Grande do Sul fez uma recomendação ao Conselho Federal de Medicina, dando um prazo para que o Conselho revisse a resolução que permite a mutilação de bebês no Brasil, pautada na finalidade de adequar as crianças ao binarismo de gênero imposto pela sociedade.Após o prazo, o Ministério Público Federal do Rio Grande do Sul ingressou com uma ação pública federal para revogar essa resolução. Estamos esperançosos para que essa ação judicial seja deferida e que o Conselho revogue essa resolução. É uma luta diária. Tenho orgulho de fazer parte da comissão e ser membro, junto com Walter e todas as pessoas aqui da diretoria da ABRAI.
Vídeo em que Dionne Freitas, Thais Emília e Rachel Rocha dão suas falas; em 2:h36.40
SEMINÁRIO; IMPACTO DA ATUAÇÃO DOS PODERES NO ENFRENTAMENTO À LGBTFOBIA – YouTube
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