“Jacob(y): Entre os Sexos e Cardiopatias, o que o Fez Anjo?”

Em um mundo que muitas vezes busca encaixar as pessoas em categorias rígidas, a história de Jacob nos lembra da complexidade e diversidade da experiência humana. Hoje, o aniversário dele é considerado o Dia de Conscientização contra a Mutilação Genital Infantil, em 26 de setembro.

O livro “Jacob(y): Entre os Sexos e Cardiopatias, o que o Fez Anjo?” aborda o enfrentamento à violência contra mulheres, a luta pela vida, a gravidez de alto risco e pós-parto, o casamento, os cuidados paliativos, os bebês Intersexos e a dolorosa experiência da perda de um filho, destacando a luta no luto. Este relato autobiográfico de Thais Emilia de Campos dos Santos, mãe de Jacob, um bebê Intersexo com genitália ambígua (DSD – diversidade do desenvolvimento do sexo, sexo diverso, pseudo-hermafrodita), destaca-se como um “divisor de águas” nos cuidados em saúde dessas crianças. O livro também questiona os direitos negados a esses bebês, desde a recusa de reconhecimento do sexo natural na certidão de nascimento até as cirurgias mutiladoras irreversíveis de transição de sexo compulsória.

A Jornada de Jacob

Jacob nasceu com genitália ambígua, desafiando as noções tradicionais de masculino e feminino. A autora, Thais, compartilha suas experiências desde o momento em que soube da condição de Jacob até os desafios enfrentados no sistema de saúde. O livro é uma mistura de narrativa pessoal, reflexões e informações médicas, tudo entrelaçado com amor e determinação.

“Jabob realmente não é um menino comum, era um anjo que chegaria na hora certa.“

Negando Direitos Básicos

Um dos momentos mais marcantes do livro é quando Thais luta para que o sexo natural de Jacob seja reconhecido na certidão de nascimento. Ela enfrenta burocracia, preconceito e desinformação, mas sua determinação é inabalável. A negação de direitos básicos é uma realidade enfrentada por muitas famílias de bebês intersexos, e Thais nos convida a questionar essas normas.

Cuidados Paliativos e Cirurgias Irreversíveis

O livro também aborda questões como gravidez de alto risco e as difíceis decisões relacionadas a cirurgias irreversíveis de transição de sexo compulsória. Thais compartilha suas angústias, medos e esperanças enquanto navega por um sistema de saúde que nem sempre está preparado para lidar com a diversidade.

“Certa vez num centro espírita uma senhora médium me disse que teriam mais bebês para vir, e eu disse jamais isso seria possível, pois eu já havia estado grávida por 4 vezes e sempre de alto risco. Tive filhos prematuros e que jamais teria outro relacionamento com outro homem, devido tudo que passei.”

Visibilidade e Educação

A história de Jacob se tornou um marco na visibilidade de bebês intersexos. Thais não apenas compartilha sua própria jornada, mas também educa o leitor sobre as complexidades dessa condição. O livro é um apelo à empatia, à compreensão e à mudança.

“Jacob(y): Entre os Sexos e Cardiopatias, o que o Fez Anjo?” é uma leitura essencial para todos que desejam entender melhor a diversidade humana e a importância de respeitar as identidades corporais individuais. Thais nos mostra que o amor e a resiliência podem superar qualquer obstáculo. Em meio a essa jornada, Thais revela corajosamente em um trecho do livro:

“Estava arrastando um relacionamento abusivo há alguns anos, por diversas vezes manifestei o desejo de término deste relacionamento e ele reagia agredindo-me psicologicamente e também por vezes, fisicamente. Eu tinha 15 anos quando nos conhecemos e era uma garota bonita, inteligente, de família tradicional que recebi uma educação para o bem e sem muita malícia, dada criação interiorana. Me achava até meio boba e inocente. Ele no início era acima de qualquer suspeita. Sua inteligência, boa aparência e família, apresentava no como sujeito ideal para ser um ‘bom pai de família’. Além do mais ele já trabalhava e era atencioso, socialmente referido e educado. O tempo mostraria, mas eu já era prisioneira do jogo e das manipulações, quando percebi que estava envolvida em chantagens, ameaças e frases abusivas que partiam de um homem que estava constantemente portando arma de fogo. Pensei que se eu o deixasse ele iria colocar a todos em risco de morte dadas as várias ameaças.“

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