FONOAUDIOLOGIA E ANOMALIAS DA DIFERENCIAÇÃO SEXUAL: ESTUDO EXPLORATÓRIO EM ATENÇÃO Á SAÚDE.

25 de setembro de 2008 | Artigos | por Dionne Freitas

Vale lembrar que a questão Intersexo no Brasil, vem apenas mudando agora, com o levante do movimento social que tem possibilitado que as produções internacionais que analisam a corporeidade Intersexo a partir do olhar da bioética, cheguem ao Brasil, o cenário atual ainda trata a intersexualidade como patologia sem capacidade de autonomia e autodeterminação de gênero. Com essa mudança, a discussão não parti mais de uma narrativa patológica, mas que permita a autonomia do sujeito, impedindo a violação da integridade física e os direitos sexuais e reprodutivos da pessoa Intersexo. Porém infelizmente ainda vocês vão se deparar com artigos que ainda patologizam os corpos intersexo no Brasil. Como esse a seguir, sendo importante que essa analise seja feita para entender o porque da busca da autonomia das pessoas intersexo.

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INTRODUÇÃO: As Anomalias da Diferenciação Sexual (ADSs) referem-se a indivíduos nascidos com a genitália interna e/ou externa não definida claramente como feminina ou masculina. São conhecidas também por estados intersexuais e podem decorrer de ingestão de medicamentos na gestação, defeitos embriológicos e/ou genéticos (Damiani, 2002). Segundo Freitas, Passos e Cunha Filho (2002), as ADSs podem ser divididas em quatro grandes grupos: – Distúrbio da Diferenciação Gonadal (bebê nasce com gônadas disgenéticas): Síndrome de Klinefelter; Síndrome de Turner; Disgenesia Gonadal Pura.- Pseudo Hermafroditismo Feminino (cariótipo XX, genitália interna feminina e externa ambígua): Hiperplasia Congênita de Supra-renal; Produção ou Ingestão Materna de Andrógeno; Malformações do Intestino e Vias Urinárias; Ausência do Desenvolvimento de Útero e Trompas; Ausência Congênita da Vagina.- Pseudo Hermafroditismo Masculino (indivíduo possui testículos, cariótipo XY, genitália externa é feminina ou ambígua): Criptorquidismo; Anorquia; Hipospádias; Pseudo Hermafroditismo Masculino de Causa hormonal; Defeito na Formação e/ou Ação do Inibidor Mulleriano; Defeito na Síntese de Testosterona; Defeito na Conversão da Testosterona em Dihidrotestosterona: Forma Completa (testículo feminizante) e Forma Incompleta, Ingestão Materna de Estrógenos ou Progestacionais; Pseudo-Hermafroditismo Masculino Disgenético.- Hermafroditismo Verdadeiro (indivíduos possuem tecido ovariano e testicular na mesma gônada).A rigor, há poucos estudos fonoaudiológicos sobre o tema. No entanto, essas anomalias, por razões diversas (genéticas, hormonais, psíquicas e sociais), podem apresentar alterações fonoaudiológicas, indicando a necessidade da presença do fonoaudiólogo nas equipes multiprofissionais de hospitais e ambulatórios de referência.OBJETIVO: Levantar e sistematizar a produção sobre as ADS, nos fatores relacionados às alterações fonoaudiológicas nesses quadros, bem como a necessidade de abordagem multiprofissional e interdisciplinar no tratamento das mesmas, demonstrando a pertinência da presença fonoaudiológica.MÉTODO: Pesquisa exploratória, financiada pela CAPES. Investigação delineada por levantamento documental e bibliográfico sistemático, a partir do qual foi realizada análise dos dados referentes às características das ADSs, à intervenção multiprofissional e à presença de alterações e sintomas afetos à Fonoaudiologia.RESULTADOS: A literatura especializada, que é principalmente médica e psicológica, é categórica em afirmar o caráter multifacetado e multidisciplinar das ADSs, em função de problemas para se fazer o diagnóstico e decidir sobre possíveis correções cirúrgicas; também em função do impacto, na família, da notícia da indefinição do sexo do recém-nascido, bem como das conseqüências na dinâmica familiar e no desenvolvimento da criança, que sofre com alterações morfológicas, metabólicas e com desafios e estigmas afetivo-sociais decorrentes da ambigüidade sexual. A literatura e os documentos de Associações e Entidades também são específicos quanto às características físicas e psicológicas nesses quadros. Entre elas, destaca-se aspectos diretamente ligados à Fonoaudiologia: alterações vocais, por problemas hormonais; alterações de linguagem oral e/ou escrita, por questões de desenvolvimento infantil e sócio-afetivas; problemas de aprendizagem, por razões sócio-emocionais, embora não haja déficits cognitivos relacionados às ADSs. CONCLUSÃO: A presença do fonoaudiólogo nas equipes multiprofissionais, que atuam em hospitais e ambulatórios de referência para ADSs, é objetivamente justificada pela prevalência de sintomas relacionados à comunicação pessoal (voz, linguagem oral e escrita), e por questões biopsíquicas, que incidem na aquisição e no desenvolvimento de linguagem dessa população.

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