Autoras Intersexo Lançam Livro Inovador sobre Saúde e Diversidade, Revelando Nova Estimativa de 11% da População Mundial como Intersexo

Thais Emília, Céu Albuquerque e Dionne Freitas apresentam obra abrangente que promete transformar a compreensão médica e social sobre a diversidade humana.

25 de abril de 2024 | Livros, Publicações | por Céu Albuquerque
Foto: Divulgação

Um evento de grande importância na pesquisa médica e social, o lançamento do livro “150 Variações Intersexo“, está marcado para o dia 18 de maio de 2024, na sede da Ordem dos Advogados do Brasil em São Paulo (OAB/SP). Toda a venda proveniente das vendas do livro será revertida em doação para a ABRAI, proporcionando um significativo apoio financeiro à organização. Adquira seu exemplar diretamente na ABRAI ou com as autoras. Organizado por três mulheres intersexo, Thais Emília de Campos dos Santos, Céu Ramos de Albuquerque e Dionne do Carmo Araújo Freitas, e publicado pela editora CRV, esta obra é o resultado de anos de pesquisa, dedicação e paixão pela causa intersexo.

A pesquisa, que passou por uma rigorosa avaliação de uma comissão técnica científica composta por diversos professores de universidades públicas do Brasil, teve início em 2022. Nesse ano, Thais Emília e Dionne Freitas identificaram 50 variações intersexo. No ano seguinte, Céu Albuquerque prosseguiu com o estudo, descobrindo mais 100 variações intersexo, totalizando 150 variações. Além disso, Céu elaborou uma tabela detalhando informações sobre cada variação intersexo, incluindo etiologia (recessiva ou dominante), etiologia/embriologia, características somáticas, prevalência/incidência em recém-nascidos, resultado inicial e estimativa na população mundial (x̄ = 8.000.000.000, bilhões). O livro traz uma estimativa de que até 11% da população mundial seja intersexo, no entanto, devido ao grande número de subnotificações, não é possível fornecer uma estimativa mais precisa no momento. No entanto, segundo Céu, essa porcentagem poderá alcançar até 20% da população mundial no futuro.

Além de ser uma conquista monumental para a ciência, “150 Variações Intersexo” é também um manifesto pela inclusão e pelo respeito à diversidade. Ao destacar a importância de uma abordagem sensível e ética no tratamento de pessoas intersexo, as autoras lançam um desafio à comunidade médica e educacional, instigando uma reflexão profunda sobre os direitos e necessidades desses indivíduos.

Céu Albuquerque, Thais Emília e Dionne Freitas

O livro “150 Variações Intersexo”, escrito e organizado pela Pedagoga Thais Emília de Campos dos Santos, pela Jornalista Céu Ramos de Albuquerque e pela Terapeuta Ocupacional Dionne do Carmo Araújo Freitas, é resultado do trabalho científico da Associação Brasileira Intersexo – ABRAI, da qual a primeira e a última autora são fundadoras e a Céu é uma ativista intersexo ligada à ABRAI. O entendimento da produção deste livro é enriquecido pela vida e formação das autoras.

Thais Emília, Presidente e Fundadora da ABRAI e do Instituto Jacob Cristopher, é doutora em Educação (Unesp), com a tese intitulada “Educação de Crianças e Adolescentes Intersexo”. Também é especialista em Educação Inclusiva, Diversidade, Sexualidade e Gênero. Mãe de Gui, Ale, Jenny e Jacob Cristopher (bebê Intersexo), autora do livro “Jacob y”. Além disso, é embaixadora na luta contra a violência de mulheres e de meninas pelo Instituto Avon, Psicopedagoga e Psicanalista, voluntária na Rede Jacob e foi voluntária no ambulatório de endocrinologia do Hospital São Paulo (Unifesp). Atualmente, está envolvida na organização do grupo de estudos de DDS e Intersexo da (Unifesp). Thais também traz no livro um amplo debate sobre o conceito de intersexo, diferenciando DDS de intersexo. Saiba mais sobre Thais em seu site https://thaisemilia.com.br/.

Céu, engenheira civil com pós-graduação em Segurança do Trabalho, além de jornalista e fotógrafa com 11 anos dedicados à fotografia intimista através de sua página no Instagram e site “Céu de Ramos“, onde divulga seu trabalho, tornou-se em fevereiro deste ano a primeira pessoa do Brasil a obter a retificação da certidão de nascimento de feminino para intersexo. Além disso, é ativista intersexo e dedica-se ao importante trabalho de conscientização da causa intersexo há mais de uma década. Atualmente, realiza esse trabalho através de sua página no Instagram, “Intersexualizando”.

Dionne é Terapeuta Ocupacional formada pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP), com pós-graduação Lato Sensu pelo Programa de Residência Multiprofissional em Atenção e Cuidado Hospitalar na Saúde do Adulto e Idoso pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e Pós-graduação Stricto Sensu Mestrado em Desenvolvimento Territorial Sustentável – Redes Sociais e Políticas Públicas pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Atualmente, está cursando doutorado em Patologia pela Universidade de São Paulo na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto FMRP-USP. Participa do grupo de pesquisa interdisciplinar de Pesquisa sobre Território, Diversidade e Saúde (TeDis) da UFPR e do Grupo de Estudo e Pesquisa Sobre Intersexualidade e Diferenças do Desenvolvimento do Sexo da UNIFESP. Além disso, é fundadora e Diretora Executiva da Associação Brasileira de Intersexos, Diretora da Área de Intersexos da Aliança Nacional LGBTI, Membro da Associação Brasileira de Famílias Homotransafetivas, e atuante no movimento Social Intersexo Aliada LGBT+. Em 2015, Dionne iniciou seu canal no YouTube trazendo explicações sobre as condições corporais que levam a uma vivência intersexo.

Todas as três têm experiência pessoal com a condição intersexo, assim como em seus filhos.

Segundo o professor livre-docente em psicologia da UNESP, Dr. Raul Aragão Martins, o livro está organizado em quatro partes. A primeira, a introdução, estabelece os marcos científicos, sociais e políticos da pessoa intersexo, pois, como expõem as autoras, “ser intersexo extrapola o diagnóstico médico de DDS, pois refere-se à vivência social de pessoas que têm corpos que destoam com o constructo social e biológico de macho e fêmea nesta sociedade atual, […]” (MARTINS, 2019, p. ?). Esta condição, segundo a Organização Mundial de Saúde, atinge de 1,7% a 2% da população mundial, mas, com a compilação exaustiva dos diagnósticos realizada neste livro, este percentual pode chegar a 11% da população. As autoras lembram que pode haver mais do que os 150 condições corporais expostas neste livro.

Para o Dr. Raul Aragão Martins, este levantamento de diagnósticos se justifica pela necessidade de toda a sociedade ter conhecimento sobre as pessoas intersexo, especialmente aqueles que estão mais ligados a elas desde o nascimento, como os médicos. Espera-se que estes profissionais garantam “[…] um atendimento adequado e sensível às necessidades de pessoas intersexo, evitando procedimentos médicos desnecessários e prejudiciais, como cirurgias genitais não consentidas realizadas em bebês e crianças intersexo.” (p.?). Além dos profissionais da área de saúde, aqueles que trabalham na Educação precisam, também, conhecer estas pessoas, para que todos(as) as atendam como todo ser humano deve ser tratado: com respeito e dignidade. Embora tenha citado os profissionais das áreas de Saúde e Educação, todas as pessoas precisam e devem conhecer o que é ser intersexo.

Após a introdução, são expostos os 150 diagnósticos levantados, com sua descrição e as melhores evidências científicas disponíveis até o momento. Falo “até o momento” porque a ciência é dinâmica e pode vir a acrescentar outros diagnósticos.

A terceira parte apresenta uma tabela na qual são consolidados os dados de todos os 150 diagnósticos expostos no livro. O livro apresenta, em seu final, um Índice Remissivo por assunto, o que, por tudo que foi exposto, o coloca como uma obra científica de alta qualidade.

Os resultados relatados neste livro trazem um conhecimento denso e preciso sobre as pessoas intersexo. Este saber traz uma série de implicações para a comunidade científica, para os executores de políticas públicas e para os agentes educacionais, de saúde e comunitários.

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