HERMAFRODITISMO VERDADEIRO: RELATO DE CASO*
Vale lembrar que a questão Intersexo no Brasil, vem apenas mudando agora, com o levante do movimento social que tem possibilitado que as produções internacionais que analisam a corporeidade Intersexo a partir do olhar da bioética, cheguem ao Brasil, o cenário atual ainda trata a intersexualidade como patologia sem capacidade de autonomia e autodeterminação de gênero. Com essa mudança, a discussão não parti mais de uma narrativa patológica, mas que permita a autonomia do sujeito, impedindo a violação da integridade física e os direitos sexuais e reprodutivos da pessoa Intersexo. Porém infelizmente ainda vocês vão se deparar com artigos que ainda patologizam os corpos intersexo no Brasil. Como esse a seguir, sendo importante que essa analise seja feita para entender o porque da busca da autonomia das pessoas intersexo.
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Objetivo: relatar o acompanhamento multidisciplinar de um caso de hermafroditismo verdadeiro HV, diagnosticado na Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará. Relato de caso: paciente nascido em 2000, apresentando ao exame físico falus de 1,5cm de comprimento, bolsa escrotal bífida, transposição penioescrotal, sinus urogenital, gônada esquerda canalicular distal com 1cm de diâmetro, móvel e de consistência fibroelástica, e não palpável à direita, sem demais alterações. A investigação diagnóstica seguiu com realização de cariótipo [46 XY – 90%; 45 Xr (?Y) – 6%; 45 X – 4%]; exames endocrinológicos; ultrassonografia e genitografia. Foi submetido à laparotomia exploradora, com identificação de útero rudimentar, tubas uterinas bilateralmente, gônada direita na cavidade de aspecto arredondado e gônada esquerda penetrando no anel inguinal profundo. Biópsia de congelação teve resultado inconclusivo, mas após revisão diagnosticou ovotéstis bilateralmente e presença de tecido epididimário e tuba ovariana. Assim, o diagnóstico de HV foi estabelecido. Foi realizada nova laparotomia exploradora, histerectomia total, salpingectomia com gonadectomia direita, gonadectomia esquerda por via escrotal e vaginectomia. Em 2009, foi realizado o primeiro tempo da correção de hispospádia perineal. Considerações finais: diferente do que acontece na maioria dos casos, o caso relatado tem cariótipo em mosaico, acompanhado de ambigüidade genital, o que possibilitou investigação precoce, visto que o tratamento tardio na maioria das vezes se justifica pela falta de alteração na genitália externa. O acompanhamento multidisciplinar foi determinante para a condução do caso.
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